Salvadores da pátria, Heróis, Vilões e de volta ao começo:

O ciclo infinito dos protagonistas do futebol

Felipe Ximenes

5/14/20252 min leer

A guilhotina do futebol brasileiro segue afiada e sem a menor demonstração que mudará em 2025. Em 8 rodadas da série A, 7 demissões de treinadores: Mano Menezes – Fluminense (1ª rodada), Pedro Caixinha – Santos (3ª rodada), Gustavo Quinteros – Grêmio (4ª rodada), Ramón Díaz – Corinthians (4ª rodada).Fábio Carille – Vasco (6ª rodada), Pepa – Sport (7ª rodada), Fábio Matias – Juventude (8ª rodada)

Poucos ecossistemas cobram tanto sangue quanto o nosso futebol. Volatilidade, hostilidade e alta pressão fermentam um caldo que precisa, invariavelmente, de protagonistas. Eles chegam como salvadores, viram heróis na vitória e, na primeira sequência de tropeços, transformam-se em vilões dignos de decapitação pública. Depois de algum tempo, às vezes meses, às vezes semanas, são levados à posição de mártires e o ciclo recomeça, como um rito silencioso que mantém o espetáculo aceso.

Durante décadas, o giro da guilhotina mirava quase sempre na cabeça dos treinadores. Hoje, a lâmina é mais democrática: corta também diretores executivos — que mal assinam o crachá — e jogadores, descartados antes mesmo de terem tempo de virar um campeonato em má fase. A idolatria dura um stories; a crucificação, um trending topic.

Quando as SAFs invadiram o mercado brasileiro (já são mais de uma centena delas, espalhadas pelo país), muitos apostaram que a lógica empresarial traria previsibilidade, blindaria projetos e deixaria a guilhotina emocional esquecida em algum lugar embaixo das arquibancadas. Ledo engano. A cartola trocou o linho pelo dry-fit, mas o velho instinto sobreviveu: ainda se empilha expectativa em cima de um nome e se joga o mesmo nome aos leões na virada seguinte. Mudou o cenário; permaneceu o script.

A verdade é que lutar contra essa lógica é uma perda de tempo e de energia estratégica. O futebol, em sua essência cultural brasileira, precisa desses ciclos para se manter vivo, pulsante, relevante. O desafio para nós, gestores, é entender essa dinâmica, preparar-se para ela e não perder o foco no que realmente importa: construir clubes mais fortes, mais organizados, mais resilientes à montanha-russa emocional que é típica do nosso futebol.

Para os gestores esportivos, entender e aproveitar essa dinâmica é uma ferramenta estratégica fundamental. Em um mercado onde a narrativa se cria tanto dentro quanto fora de campo, saber gerir a imagem dos protagonistas do clube é imprescindível para manter a competitividade e fortalecer a marca.

Quem domina essa gangorra prospera. Ajusta contrato, protege imagem, controla vazamentos, antecipa crises. Sabe que um herói bem gerido vende camisa, mas um vilão mal-cuidado afunda patrocínio. Navegar entre o aplauso e a vaia, entre a manchete de euforia e a de escárnio, é a arte que separa os profissionais que vivem do futebol daqueles que apenas sobrevivem a ele.

Em resumo: não lute contra o enredo — escreva-o melhor.